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Mostrando postagens de abril, 2019

Ontem

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Ontem fui a padaria, como sempre vou de manhã. Aquela senhorinha que mora no 102 perguntou de você, se estava bem e disse que não a via já tinha algum tempo. Respondi que você estava bem, aliás, era sempre isso que eu dizia quando perguntavam de você desde a última vez que nos falamos, há uns seis ou sete anos mais ou menos. Ainda me lembro que você disse que estava bem pra sempre, ou seja, eu não deveria mais me preocupar.  Esse foi o motivo pelo qual eu fugi, e o motivo pelo qual eu sempre fujo. Conversamos um pouco, ela disse que eu era um bom rapaz, mas que deveria me cuidar mais, não desperdiçar minha vida assim. Juro que não entendi o que ela quis dizer, mas por que não prestei atenção mesmo. Ainda estava pensando em:  "Por que eu fugi?" Não tinha uma resposta. Talvez eu nunca tenha essa resposta. Talvez, e só talvez, eu tenha ido pra não machucar mais ninguém. Para não ferir mais ninguém com tudo aquilo que eu nunca vou ser. Peço aos deuses que estejam t...

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Era cerca de 3 horas da manhã de uma terça-feira comum, quando me sentei na cozinha com uma garrafa. Enquanto eu olhava pra ela, e ela me olhava, várias coisas passavam pela minha cabeça. Desde as minhas partidas, partidas de outras pessoas, mudanças, medos. Tudo se passava por aqueles cinquenta centimetros de olhares. Me lembro apenas de pegar o cigarro quando ele se sentou a minha frente, sorrindo, como sempre. - Como você está hoje? Não era pra estar dormindo? - Ah, to indo. E sim, eu deveria estar dormindo. - E tá fazendo o que aqui? Aliás, me da um gole aí. A garganta tá bem seca. Fui até o armário, peguei os copos americanos, exatamente aquele copo americano que foi inventado aqui no Brasil, peguei dois, voltei calmamente. Vi que ele usava uma roupa parecida com a minha. Camisa regata, bermuda preta, o boné virado pra trás. Ele ainda me olhava sorrindo. Servi. - Então - ele disse - você deveria estar dormindo, logo logo vai ter que trabalhar, não é? - Pois é, os...

sobre um livro

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Ainda me lembro do dia em que ela saiu por aquela porta sem dizer uma palavra. Ou melhor, sem dizer uma palavra e sem nem olhar pra trás.  Aquilo me disse muito de uma só vez. Aquilo foi o adeus silencioso mais doloroso que eu havia recebido em toda a minha vida. Todos se vão e mesmo que eu ainda guarde um pouco de cada um que passou por mim nesses vinte anos de vida, eu não consigo superar aquele adeus. Naquela mesma manhã, ela havia chegado feliz, com um livro nos braços dizendo que era meu. Uma semana antes, ela me pedira um livro emprestado, logo após eu contar a história de como meus avós se casaram por causa de um livro. - Uma vez, minha avó, que já conhecia meu avô da escola, disse que gostaria muito de ler uma obra que se chama "Dom Quixote de la Mancha" é um livro de Miguel de Cervantes. - Todo mundo já ouviu falar de Dom Quixote - ela me enterrompeu. - Pois bem, meu avô, disse que usava sempre um marca textos dentro do livro, e que era pra que ela o mantives...