Ontem

Ontem fui a padaria, como sempre vou de manhã.
Aquela senhorinha que mora no 102 perguntou de você, se estava bem e disse que não a via já tinha algum tempo.

Respondi que você estava bem, aliás, era sempre isso que eu dizia quando perguntavam de você desde a última vez que nos falamos, há uns seis ou sete anos mais ou menos. Ainda me lembro que você disse que estava bem pra sempre, ou seja, eu não deveria mais me preocupar. 


Esse foi o motivo pelo qual eu fugi, e o motivo pelo qual eu sempre fujo.


Conversamos um pouco, ela disse que eu era um bom rapaz, mas que deveria me cuidar mais, não desperdiçar minha vida assim. Juro que não entendi o que ela quis dizer, mas por que não prestei atenção mesmo. Ainda estava pensando em: 


"Por que eu fugi?"


Não tinha uma resposta. Talvez eu nunca tenha essa resposta.


Talvez, e só talvez, eu tenha ido pra não machucar mais ninguém. Para não ferir mais ninguém com tudo aquilo que eu nunca vou ser.


Peço aos deuses que estejam te colocando em um lugar melhor do que aqui. Por que aqui continua a mesma coisa.


A senhorinha pega os pães, me da um sorriso, diz "tchau, se cuida viu menino. manda um beijo pra ela"


Respondo "pode deixar, eu mando sim!"

Talvez você nunca saiba disso.


Voltei da padaria deixei os pães na cozinha e me sentei no sofá. Era sábado. 


Não tinha muito o que fazer. 


Peguei um livro.


Torci para que a porta se abrisse e você entrasse, como faço todo fim de semana.


Nada aconteceu. Voltei pro livro.


Tenho fugido de tudo por todos esses vinte anos,


primeiro pela facilidade,


segundo,


por não ser bom o suficiente pra que ninguém fique.



Hoje é domingo e estou aqui, fugindo de mim mesmo.

Obrigado.


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