Desistir
Era mais uma segunda-feira e eu estava perdido pelas ruas da cidade. Caminhava próximo a linha do trem enquanto fumava um cigarro.
Seguia em busca do bar mais próximo.
Nunca foi tão difícil ficar três noites acordado, a idade chega e não tem muito o que fazer.
Caminhava pelo submundo da cidade. Aquela hora e naquele lugar só viviam todos aqueles que, de alguma forma, eram menosprezados pela sociedade. Eu estava lá por que estava perdido. Por que desistira de tudo e de todos.
Naquela ruazinha, caminhando entre bêbados e adictos, haviam prostitutas. Mulheres, homens, mulheres e homens trans, travestis. Infelizmente, muitos ainda recorriam a isto para sobreviver.
"Quem vai empregar uma travesti numa loja não é mesmo? Mancharia o nome da loja, com certeza."
Pff!.
Grandes bobagens que se ouve entre um passo e outro pelos corredores da sociedade.
Havia alguém ali, que de alguma forma se importava comigo. Não sei o por que, nem como ela havia reparado em mim. Eu era mais um no meio de tantos outros.
Ela dizia se chamar Tábata, não sei seu verdadeiro nome, nem muito mais sobre isso.
Tábata dizia que eu precisava sair dali.
"Aqui não é lugar pra uma pessoa como você!" dizia Tábata.
Ela também foi recusada a trabalhar em vários lugares, incluindo lojas.
As vezes é isso que acontece quando se tenta ganhar a vida longe da família. Disse a ela que "as vezes a gente só desiste de tudo, e foi só isso que restou pra gente, desistir!"
Mas Tábata dizia que não. A gente pode desistir do trabalho que nos fode, da companhia que nos fode, do ambiente que nos fode, mas não pode desistir da vida. Essa nos fode sempre, mas desistir dela é burrice.
Era difícil discutir com Tábata, então eu sempre sorria e ia embora.
Tábata entendia mais do que eu da vida. Com certeza já havia desistido de muita coisa. Mas aquela rua do submundo caótico da cidade era tudo o que tínhamos agora.
"Mais uma cerveja por favor! E um maço de cigarros, acho que já vou indo. Tchau Tábata, talvez nos veremos amanhã!"
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