Monólogo
[ É uma sala escura, há um sofá, uma cadeira e uma lampada sobre um criado mudo, nada mais que isso]
Ele entra.
Olá, você veio hoje. Talvez amanhã não nos encontrássemos com tanta facilidade, devo dizer a você que as coisas estão cada dia melhores aqui! Sim, sim, estão melhores a ponto de eu desistir de toda noção das coisas materiais e físicas. Mas antes de conversarmos, aceita algo para beber? Algo para fumar? Tenho tabaco também, caso prefira eles ao cigarro.
[Ele caminha um pouco em círculos, pega a cerveja que estava no criado mudo, acende um cigarro.]
Vamos lá, quero lhe contar as novidades, antes da minha partida. Claro, sabes que vou viajar, não é? É muito provável que eu não volte cá por estas bandas por um bom tempo, por isso pedi para que viesse hoje. Quero atualiza-lo de tudo o que aconteceu nestes dias em que você foi até a casa de sua enamorada. [Ele ri] Digamos que eu finalmente compreendi minha maior teoria, a teoria do Desistir! Vamos, você já deve estar cansado de me ouvir falar sobre ela, não é? Tenho dito sobre isso desde que era muito jovem, você bem lembra da época da faculdade não é?
Lembra-se de quando me apaixonei? Meu Deus, foi meu único amor, a primeira vista. Combinávamos como nunca. Ela tinha seus cabelos castanhos, olhos escuros e estava sempre caminhando pela faculdade. Eu, sempre triste, ficava ali no fumódromo com alguns amigos enquanto cometíamos nossos suicídios diários. Nossos olhares se cruzaram pelos ônibus da vida. Ainda me lembro que me apaixonei perdidamente sem se quer tocá-la. Foi tamanha estranheza de minha parte que naquele exato momento desejei que ela não tivesse ninguém. Mas para meu azar, ou não, ela tinha um namorado, bem bonito, de fato. Combinavam quando estavam juntos, mas quando estavam longe, só Deus vai dizer a ela tudo o que ele fazia.
Por favor, sente-se, não quero que se canse do nosso bate-papo. Sente-se aqui no sofá.
[Ele puxa a cadeira, e senta-se apoiado com os braços no encosto da mesma]
Sabe que, depois desse amor, nunca mais tive outro. É verdade, foi algo que marcou minha vida para sempre. Depois dela, só tenho me envolvido com os livros. Já que os tenho aqui aos montes. Mas deve estar pensando, aonde quero chegar com todo esse papo da época de faculdade. Pois bem, lembra-se que eu disse da minha teoria? Foi aí que tudo começou. Na época eu gostava muito de um filósofo que, hoje em dia, tornou-se modinha no meio da juventude. {tremendos babacas que não entendem bulhufas do que ele disse}Pois bem, eu gostava muito de Schopenhauer, e toda aquela loucura dele da vontade e a teoria do Pêndulo. Aquilo movia a minha vida. Foi ai então que eu comecei a dar vida a minha teoria. Essa moça que eu acabei de te falar, você se lembra de como tudo aconteceu? Primeiro a preocupação, depois a aproximação, em seguida, o afastamento parcial, logo em seguida o salvamento, afastamento completo e o distanciamento total. A partir disto, começou-se a formar a minha teoria, e eu vou te explicar agora. Mas antes, um cigarro!
[Ele acende outro cigarro na bituca do primeiro]
Pois então, a Teoria do Desistir consiste em fazer com que você entenda aquilo que você não vai ter, por diversos fatores, sejam naturais, sejam sociais, políticos e até filosóficos. Posso explicar isso utilizando o Pêndulo de Schopenhauer, ao invés de pensarmos em tédio e dor, vamos utilizar dor e desistência. Por que na verdade você vai sentir a dor por não conseguir aquilo, ou então vai desistir de conseguir mesmo. Foi mais ou menos assim com aquela moça, lembra que ela nos deixou esperando duas aulas todas por ela enquanto ela estava com o namorado? Foi ali que eu comecei a desistir. Mantive por muito tempo um certo sentimento amoroso por ela, porém, meu caro, nutri aquilo tudo por nada. Ela nunca decidiria ficar comigo HAHAHAHAHA
A primeira desistência nós nunca nos esquecemos. Depois disso, foi uma desistência atrás da outra. Abandonei o trabalho, por que, era impossivel continuar daquela forma. 10 horas por dia, 7 dias por semana, fazendo algo que eu não gostava, que no caso era vender tênis, meu almoço por vários dias foram um pacote de bolacha. Aquilo não era vida. Desisti do trabalho logo depois de desistir da moça. Nunca mais encontrei alguém como ela. Até por que, desisti de quase tudo nessa minha vida. O trabalho, o amor, até dessa casa eu desisti. Meus livros, lembra das prateleiras gigantescas que haviam aqui? Doei tudo para uma biblioteca comunitária. Estarei amanhã fazendo minha mudança, pois, desisti daqui também. Não há mais o que fazer aqui, não pra mim pelo menos. Mas acalme-se, nos encontraremos em breve. Não vou muito longe não, se dobrares a esquina me encontrará. Sabes que fui pequeno enquanto vivi e, nem isso me fez menos feliz. Toda essa minha desistência, me fez forte e pronto para partir. Quero que fique com isso.
[Ele entrega uma pequena caixa]
Aqui dentro tem coisas extremamente importantes para quando me vir novamente. Guarde-a em um lugar seguro. Mas vou te explicar o que deve fazer:
[Ele sobe na cadeira, finge que arruma a gravata]
" Primeiramente, vós me encontrará em um momento de puro descanso de minha parte. Estarei dormindo, provavelmente" {vamos, dê me a caixa} [ele pega a caixa]. "Aqui dentro, há acessórios essenciais para meu descanso" [ele abre a caixa] " Temos aqui, um par de chifres, e duas moedas de ouro puro e maciço. E agora, com certeza, vós esta se perguntando: ' O que farei com isso?'. Pois bem, coloque tudo isso comigo no meu repouso, talvez essa seja a minha ultima saída para algum lugar bom!"
Coloque os chifres em minhas mãos e as moedas em meus olhos. Ao atravessar, encontrarei-me no rio Estige, e com certeza encontrarei-me com Caronte. Com as moedas de ouro, pagarei minha viajem pelo rio, e com os chifres, poderei dizer a ele que fui um dos maiores homens já vivos nesta terra. Mesmo que desistindo de tudo, fui um grande homem, pois tinha dos maiores cornos já vistos.
[ele desce da cadeira]
Ele vai compreender, aposto que ele nunca viu outro homem com cornos assim. HAHAHAHAHA
Era isso que precisava de ti. Guarde isso para mim, faça o que lhe pedi quando nos encontrarmos novamente. Agora vá, preciso acabar de arrumar minhas coisas para a minha partida. Ainda preciso falar com mais algumas pessoas. Preciso também deixar alguns recados. Diga a todos que fui um homem bom, pelo menos isso. E por favor, feche a porta quando sair. O ar está muito frio lá fora! Obrigado por ter vindo, por me ouvir, mesmo não entendendo nada. Obrigado!
[ Ele se vira, coloca um colar, diferente, mas um colar, olha para trás e diz!]]
Desistam, desistam daquilo que te faz mal, daquilo que não te traz nenhuma evolução. Desistam de tudo o que venha lhe fazer mal. Saltem para a liberdade.
[ Ele pula]
Ele entra.
Olá, você veio hoje. Talvez amanhã não nos encontrássemos com tanta facilidade, devo dizer a você que as coisas estão cada dia melhores aqui! Sim, sim, estão melhores a ponto de eu desistir de toda noção das coisas materiais e físicas. Mas antes de conversarmos, aceita algo para beber? Algo para fumar? Tenho tabaco também, caso prefira eles ao cigarro.
[Ele caminha um pouco em círculos, pega a cerveja que estava no criado mudo, acende um cigarro.]
Vamos lá, quero lhe contar as novidades, antes da minha partida. Claro, sabes que vou viajar, não é? É muito provável que eu não volte cá por estas bandas por um bom tempo, por isso pedi para que viesse hoje. Quero atualiza-lo de tudo o que aconteceu nestes dias em que você foi até a casa de sua enamorada. [Ele ri] Digamos que eu finalmente compreendi minha maior teoria, a teoria do Desistir! Vamos, você já deve estar cansado de me ouvir falar sobre ela, não é? Tenho dito sobre isso desde que era muito jovem, você bem lembra da época da faculdade não é?
Lembra-se de quando me apaixonei? Meu Deus, foi meu único amor, a primeira vista. Combinávamos como nunca. Ela tinha seus cabelos castanhos, olhos escuros e estava sempre caminhando pela faculdade. Eu, sempre triste, ficava ali no fumódromo com alguns amigos enquanto cometíamos nossos suicídios diários. Nossos olhares se cruzaram pelos ônibus da vida. Ainda me lembro que me apaixonei perdidamente sem se quer tocá-la. Foi tamanha estranheza de minha parte que naquele exato momento desejei que ela não tivesse ninguém. Mas para meu azar, ou não, ela tinha um namorado, bem bonito, de fato. Combinavam quando estavam juntos, mas quando estavam longe, só Deus vai dizer a ela tudo o que ele fazia.
Por favor, sente-se, não quero que se canse do nosso bate-papo. Sente-se aqui no sofá.
[Ele puxa a cadeira, e senta-se apoiado com os braços no encosto da mesma]
Sabe que, depois desse amor, nunca mais tive outro. É verdade, foi algo que marcou minha vida para sempre. Depois dela, só tenho me envolvido com os livros. Já que os tenho aqui aos montes. Mas deve estar pensando, aonde quero chegar com todo esse papo da época de faculdade. Pois bem, lembra-se que eu disse da minha teoria? Foi aí que tudo começou. Na época eu gostava muito de um filósofo que, hoje em dia, tornou-se modinha no meio da juventude. {tremendos babacas que não entendem bulhufas do que ele disse}Pois bem, eu gostava muito de Schopenhauer, e toda aquela loucura dele da vontade e a teoria do Pêndulo. Aquilo movia a minha vida. Foi ai então que eu comecei a dar vida a minha teoria. Essa moça que eu acabei de te falar, você se lembra de como tudo aconteceu? Primeiro a preocupação, depois a aproximação, em seguida, o afastamento parcial, logo em seguida o salvamento, afastamento completo e o distanciamento total. A partir disto, começou-se a formar a minha teoria, e eu vou te explicar agora. Mas antes, um cigarro!
[Ele acende outro cigarro na bituca do primeiro]
Pois então, a Teoria do Desistir consiste em fazer com que você entenda aquilo que você não vai ter, por diversos fatores, sejam naturais, sejam sociais, políticos e até filosóficos. Posso explicar isso utilizando o Pêndulo de Schopenhauer, ao invés de pensarmos em tédio e dor, vamos utilizar dor e desistência. Por que na verdade você vai sentir a dor por não conseguir aquilo, ou então vai desistir de conseguir mesmo. Foi mais ou menos assim com aquela moça, lembra que ela nos deixou esperando duas aulas todas por ela enquanto ela estava com o namorado? Foi ali que eu comecei a desistir. Mantive por muito tempo um certo sentimento amoroso por ela, porém, meu caro, nutri aquilo tudo por nada. Ela nunca decidiria ficar comigo HAHAHAHAHA
A primeira desistência nós nunca nos esquecemos. Depois disso, foi uma desistência atrás da outra. Abandonei o trabalho, por que, era impossivel continuar daquela forma. 10 horas por dia, 7 dias por semana, fazendo algo que eu não gostava, que no caso era vender tênis, meu almoço por vários dias foram um pacote de bolacha. Aquilo não era vida. Desisti do trabalho logo depois de desistir da moça. Nunca mais encontrei alguém como ela. Até por que, desisti de quase tudo nessa minha vida. O trabalho, o amor, até dessa casa eu desisti. Meus livros, lembra das prateleiras gigantescas que haviam aqui? Doei tudo para uma biblioteca comunitária. Estarei amanhã fazendo minha mudança, pois, desisti daqui também. Não há mais o que fazer aqui, não pra mim pelo menos. Mas acalme-se, nos encontraremos em breve. Não vou muito longe não, se dobrares a esquina me encontrará. Sabes que fui pequeno enquanto vivi e, nem isso me fez menos feliz. Toda essa minha desistência, me fez forte e pronto para partir. Quero que fique com isso.
[Ele entrega uma pequena caixa]
Aqui dentro tem coisas extremamente importantes para quando me vir novamente. Guarde-a em um lugar seguro. Mas vou te explicar o que deve fazer:
[Ele sobe na cadeira, finge que arruma a gravata]
" Primeiramente, vós me encontrará em um momento de puro descanso de minha parte. Estarei dormindo, provavelmente" {vamos, dê me a caixa} [ele pega a caixa]. "Aqui dentro, há acessórios essenciais para meu descanso" [ele abre a caixa] " Temos aqui, um par de chifres, e duas moedas de ouro puro e maciço. E agora, com certeza, vós esta se perguntando: ' O que farei com isso?'. Pois bem, coloque tudo isso comigo no meu repouso, talvez essa seja a minha ultima saída para algum lugar bom!"
Coloque os chifres em minhas mãos e as moedas em meus olhos. Ao atravessar, encontrarei-me no rio Estige, e com certeza encontrarei-me com Caronte. Com as moedas de ouro, pagarei minha viajem pelo rio, e com os chifres, poderei dizer a ele que fui um dos maiores homens já vivos nesta terra. Mesmo que desistindo de tudo, fui um grande homem, pois tinha dos maiores cornos já vistos.
[ele desce da cadeira]
Ele vai compreender, aposto que ele nunca viu outro homem com cornos assim. HAHAHAHAHA
Era isso que precisava de ti. Guarde isso para mim, faça o que lhe pedi quando nos encontrarmos novamente. Agora vá, preciso acabar de arrumar minhas coisas para a minha partida. Ainda preciso falar com mais algumas pessoas. Preciso também deixar alguns recados. Diga a todos que fui um homem bom, pelo menos isso. E por favor, feche a porta quando sair. O ar está muito frio lá fora! Obrigado por ter vindo, por me ouvir, mesmo não entendendo nada. Obrigado!
[ Ele se vira, coloca um colar, diferente, mas um colar, olha para trás e diz!]]
Desistam, desistam daquilo que te faz mal, daquilo que não te traz nenhuma evolução. Desistam de tudo o que venha lhe fazer mal. Saltem para a liberdade.
[ Ele pula]
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