Talvez
Peguei o telefone mais uma vez
- essa é minha última tentativa.
Disquei o número
...
- alô?!
- ei, Jorge, tudo bem? Pode falar?
- e aí cara, tudo bem sim, correria como sempre né, você sabe! Se for rápido eu posso falar sim, tô na correria do trampo. O que manda?
- deixa, é um papo longo. Sabe se a Lisa tá bem?
- sei não, desde a festa eu não falei mais com ela.
- ah!... Beleza então. Bom trabalho aí!
- valeu mano, boa tarde pra você aí.
Desliguei.
- cara, não pode ser - pensei comigo mesmo - não pode ser mesmo. Ela não iria me ignorar. Talvez ela esteja longe do telefone, ou ocupada. Talvez cozinhando com a mãe dela. Ou então, passeando com os cachorros...
Uma voz atrás de mim sussurra:
" Talvez ela só não queira mesmo falar com você! "
- não, não, não. Sem essa agora, não é um bom momento pra você vir até aqui.
" Eu sempre estou aqui e pra dizer a verdade, você sabe bem!"
- ok, ok, mas ela me atenderia. Não é possível.
"Tudo é possível!"
- não com ela. Só ela sabe.
"Você precisa parar de dar tanta atenção pra isso tudo. Eu sei, você sentiu aquilo, mas... E daí?"
- e daí? E daí que eu nunca mais vou sentir isso.
"Claro que vai, sempre há outra forma"
- aquele mesmo terremoto? Nunca mais! Foi a única vez que eu senti aquilo em toda a minha vida!
" HAHAHAHAHAHA! Você ainda é jovem, você tem muito para aprender, comece com essa lição: se não é recíproco, corre! "
- mas foi!
"Mesmo?"
- mesmo!
" Impossível, você não sabe o que a Lisa sentiu! "
- eu sei que ela sentiu o terremoto também!
"Deve ter sentido, mas não por você! Se acalma, isso é bem doloroso, mas passa! "
O telefone toca, número privado!
- alô?
- oi, a Nextel informa...
Desligo
Talvez só eu tenha sentido mesmo.
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