É bom deixar eles saírem pra respirar um pouco!

Lucas era mais velho que eu, tanto na idade quanto no tempo de trabalho. Nós dávamos bem, ele me ajudava bastante com o trabalho, eu escrevia algumas poesias pras namoradas que ele tinha, e trocava toda semana. Eu gostava disso, praticava sempre a escrita e, na verdade, nunca me importei muito com a vida pessoal dele. Sabia muito pouco dela, o máximo que eu sabia era que ele era um cara gente boa, saía com várias garotas e não se dava bem com os familiares.

Há uns dois dias eu não ando bem, não tenho ânimo pra muita coisa mais. A confusão de uma existência pífia não consola mais todo peso que tenho carregado nós ombros desde a juventude.

- Cara, você tá bem mal né? - disse Lucas

- É, eu não estou muito bem mesmo.

- Olha, vou te dizer uma coisa, todos temos nossos "demônios" interiores, eles vivem dentro de cada um de nós, e se você não deixar eles saírem um pouquinho que seja, eles também se sufocam. Acho que ninguém gosta de ter isso dentro de si.

- Mas, se são demônios e se sufocam, é melhor, não é?

- Você tá se sentindo melhor enquanto eles se sufocam? Acho que é bom deixar eles saírem e respirarem um pouco.

Silêncio.

- Bom, eu preciso ir pra casa. Hoje não vai rolar o barzinho, desculpa.

- Fica tranquilo, vai pra casa, deixa esses demônios saírem um pouco. 

- Beleza Lucão, vou fazer isso.

Fui pra casa, sozinho com meus fones de ouvido. Durante todo o trajeto vem pensando no que Lucas me disse e talvez fizesse algum sentido.
Cheguei em casa, dei um beijo na testa da minha avó, disse que precisava estudar e fui pro quarto.
Sentei-me na cama e observei tudo a minha volta, de frente do com o espelho, olhei para o meu reflexo que sorria. Levantamo-nos, sorrindo ainda, me aproximei, abracei o espelho.

- Me desculpa te deixar trancado aí por tanto tempo.

- E você vai me soltar de novo? - ele respondeu.

Assustado, me afastei do espelho e ele continuou me olhando e sorrindo.

- Calma, você não está louco, você só é diferente. Deixa eu mostrar tudo o que você perdeu, e deixa eu mostrar tudo o que eu te livrei. Aqui dentro é sufocante, mas é compreensivo que eu não saia. Agora, é a hora em que eu preciso sair. É a hora que eu vou cuidar de você e de algumas coisas.

- Então, você é o meu demônio interno que o Lucas falou?

Ele ri.

- Não, eu sou você. Mas eu sou você de verdade, não essa capa que você usa pra deixar todos felizes enquanto você se sufoca com todas as suas palavras. Eu quero te trazer algo que só irão tirar de você, se você deixar. A sua Liberdade.

Sentei na cama, puxei um maço de cigarros de dentro da cômoda, acendi olhando pra ele, enquanto ele sorria.

- Vamos, me diga mais sobre isso...

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