Sobre a hora de dizer adeus.

Era tarde quando ele foi embora, e eu nem vi ele indo.

Eu estava, como sempre, sentado no balcão do meu velho e querido bar. Pensando em tudo o que estava acontecendo na minha vida e sobre como eu me sentia bem com coisas que eu estava percebendo. Coloquei um copo com cerveja até a boca, me abaixei pra pegar uma moeda que vi no chão, quando voltei, alguém estava do meu lado.

- Salve.

- Salve - eu disse.

Não vi ele chegando, mas estava sorrindo, vestia uma calça jeans, camiseta e blusa de couro,  tinha uma bengala, acredito que tenha algum problema de locomoção. Ele me olhava e sorria sem parar, não acredito que não o vi chegar.

Ele pegou o copo, me olhou, ergueu-o

- Agradecido, viu moço. Eu tava esperando pra vim conversa com você!

- Oxi, esperando? Eu te conheço de algum lugar?

- Conhece, mas não vai lembrar agora. Cê tá achando que tá perdido, né? Tá perdido não viu? Tá começando a ver as coisa como ela é.

- E tudo o que eu to entendendo, é assim mesmo?

- É sim, as coisas tão ficando claras pra você por que você tá começando a abrir os olhos. E não precisa ficar triste com isso não, isso vai ser uma coisa muito boa pra você!

- Mas é dificil assim mesmo?

- No começo tudo é dificil, e você vai se acostumar com o passar do tempo. Você precisa começar a entender que é hora de começar a dizer adeus pra algumas pessoas, pra algumas coisas e até pra alguns "você".

- Mas e se eu não quiser dizer adeus, e se eu quiser estar próximo?

- Fio, você precisa entender que não pode ajudar quem não quer ser ajudado. Você quer ajudar pessoa que já ta tendo ajuda de tudo quanto é lado e que, também, na verdade, não se importa muito com essas ajudas não. Você precisa, primeiro, ajudar você mesmo, assim você já vai tá ajudando um monte de gente que tá do seu lado, depois cê pensa em ajudar os outros que você conseguir ajudar.

- Eu não tinha pensado nisso.

- Olha bem pra tudo o que acontece. Pra tudo o que já aconteceu. Cê ainda acha que essa pessoa quer ajuda?

Ele vira o copo de cerveja em um gole só. Da uma risada boa, arruma o casaco e sorri pra mim.

- Fi, você é uma pessoa muito boa. Tem um coração muito bom, mas precisa começar a ver mais as coisas. As pessoas dão sinais, e não são dificeis de você entender. Seu único problema é achar que tá bunito com esses negócio enfiado na cara.

Dei uma risada, ofereci mais cerveja, ele aceitou. Bebemos mais algumas garrafas, enquanto ele me dizia coisas que eu precisava ouvir.

O bar ia fechar, o garçom já me deu um toque disso. Olhei pro lado, ele sorria pra mim, eu não conseguia ver seus olhos, por causa do chapéu, mas entendi que ele me olhava fixamente.

- Você entendeu, não é? É hora de dar adeus par tudo aquilo que não tá beneficiando você. É hora de dizer adeus pra pessoa que não se importa com você e que não quer sua ajuda. Você precisa fazer o que tem que ser feito, e pr tudo isso, eu vou estar aqui com você. Me traz mais cerveja que a gente prozeia mais. Tá certo?

- Mas é claro, gostei muito de você. Acho que você está certo, tenho que deixar ir mesmo, as vezes até antes de começar qualquer coisa.

- Tá certo.

- Aliás, estamos conversando e você não me disse seu nome.

- Você pode me chamar de amigo, de companheiro, de irmão... ou pode me chamar de Seu Zé!

- Tá certo, Seu Zé! Obrigado pela conversa...

- Toma, pega esse presente. Sempre que precisar, lembra que eu to com você, sempre que você precisar. Chama eu que eu venho pra te falar o que você precisa ouvir.

Ele me entregou um colar, branco e vermelho, disse que eu deveria usar o tempo todo, era um presente pra eu saber que ele estava comigo sempre.

Hoje, eu acordei e me peguei olhando pra esse presente, ele dizia que era a hora de dizer adeus.
Eu precisava começar a dar adeus a pessoas e coisas e tudo aquilo que já não era mais meu.


O dia começou bem hoje, principalmente a parte em que eu dormia...


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

seguir.

sobre se sentir sozinho

Sobre partidas.