Sábado, 2 da manhã

Sábado, 2 da manhã.

Eu estava sentado na sala, sozinho com a tv ligada. Passava uma reprise do programa do Jô, já extinto da tv.

Eu não prestava a atenção só mantinha a tv como uma companhia sonora.

Ela se levantou do quarto, passou pela sala, me olhou, foi até a cozinha.
Ouvi o barulho da geladeira, ela mexeu em alguma coisa no armário, derrubou uma colher, xingou um pouco e voltou pra sala.
Apenas dei um sorriso tentando expressar que ela nunca iria mudar. E eu não estava reclamando disso, era como ela era.

Ela volta pra sala, me estica a mão, uma cerveja.

- tá pensando ainda naquilo, né? - ela diz.
- é difícil superar as vezes.
- você se lembra exatamente do que?

Abri a cerveja, dei um gole. A noite estava quente e a cerveja me refrescou um pouco.

- sabe - eu disse - certa vez, quando eu tinha uns 6 anos, eu tinha muito medo de morrer. Mas não medo pela forma de como eu morreria, e sim pelo que acontece depois da morte.
- hmm - ela dizia esperando que eu continuasse.

Tomei mais um gole.

- então, minha mãe me disse que depois da morte acontecem muitas e muitas coisas, e que essas coisas não teriam mais nada a ver comigo.
- nossa, que forte.
- minha mãe era assim, as vezes pegava pesado pra que eu parasse de pensar nessas coisas.
- mas você só tinha 6 anos.
- pra mim não mudou muito.

Tomei mais um gole e olhei pra ela, que comia uma colher de brigadeiro que havíamos feito um dia antes.

- e como você está se sentindo agora? - ela perguntou.

- eu tô sentindo que eu preciso estar aqui. que eu não vou conseguir resolver todos os problemas. que eu não consigo resolver nem os meus problemas direito. mas eu preciso estar aqui pra você. essa é a única forma que eu vou poder te ajudar.

- você está muito abatido, precisa se animar um pouco.
- eu vou, só preciso por todos os sentimentos em ordem, colocar a cabeça no lugar e seguir.

Ela me olha, chega bem perto, coloca a mão no meu rosto e limpa uma lágrima que escorria discreta.

- pode chorar se quiser.
- não, eu só estou tentando controlar tudo aqui dentro.
- tá difícil, né ? eu nem imagino como é isso.
- sim, é bem difícil. e já aconteceu tanta coisa, e nada mais disso tudo tem a ver com ela.


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