Uma conversa.

era sábado e como já dizia o velho Bukowski, "todos estavam bêbados".
eu estava sentado, no mesmo bar, no mesmo banco, tomando a mesma cerveja e pensando nas mesmas coisas.
ela surgiu e sentou-se ao meu lado.

- tudo bem?
olhei.
- sim, tudo bem e com você?
- estou bem. você sumiu, não fala comigo a dias.
- hmm

eu havia ligado duas vezes naquele mesmo dia, enviado algumas mensagens e não obtive nenhuma resposta, durante dias e mais dias.

- quer beber um pouco? - eu disse.
- não, só vim saber como você está.

o garçom me olha, sou um velho conhecido do bar. frequento desde criança, e meu pai era amigo do antigo dono, já falecido. eu me mantenho amigo do atual dono, que era filho do antigo dono.

o olhar dele me dizia que algo não estava bem.

- eu tô bem, de verdade.
- mesmo?
- tô sim. - era o que eu demonstrava.

ela pegou um papel, de dentro da bolsa. dobrou, colocou próximo a minha garrafa.

- leia quando você tiver tempo.
- tá.

ela se levanta, 
sai.

olha pra trás mas eu não movimento minha cabeça, conseguia ver ela através de um vidro que estava a minha frente.

é provavel que depois desta "não olhada para trás" ela entenda que eu não quero mais vê-la.

abri o papel, o garçom senta ao meu lado, põe a mão no meu ombro e sorri.

o bilhete dizia algo sobre como ela se sentia com relação a mim. e como ela queria que eu estivesse por perto o tempo todo.

o garçom me olha, sorrindo
- é ela né?
- sim, é ela, cara.
- e você vai deixar ir assim? ela veio no boteco só pra saber se você está bem e você vai deixar ela ir assim?
- vou te contar só uma coisa, cara. Ela sabe tudo o que eu sinto, eu sei tudo o que ela sente. eu já falei sobre todos os meus sentimentos e ela também já falou.
- e por que vocês tão assim ainda?
- ela tinha que decidir sobre algumas coisas, a decisão dela foi feita e afetou nós dois. tudo o que eu tenho tentado é obedecer esta decisão, mesmo que isso me mate lentamente por dentro, sabe?
- sei, mas é o melhor?
- nem sempre o melhor é o que tem que ser feito. as vezes a gente tem que fazer o que a gente tem que fazer.
- e o que você tá fazendo? ignorando ela?
- não, to tentando seguir com a minha vida. 

ele olha pra mim, sorri mais uma vez. pega uma cerveja gelada, canela de pedreiro mesmo. põe na minha frente e diz "essa na minha conta hoje, por que você tem me ensinado um monte de coisa todo dia"

eu sorrio, ele devolve.

ela está sendo feliz em algum lugar, eu estou sendo eu, finalmente.

mais uma cerveja e todos estamos bêbados.

a partir de hoje não haverá ligacões, nem ninguém pra se importar.


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