sobre uma festa
23:59
Estou de frente ao espelho, olhando fixamente para minha imagem refletida. Como eu vim para nesta festa? Ao meu lado, dentro do banheiro, há um casal, se beijando freneticamente. Eles não me viram, ou não se importam com a minha presença. Ambos namoram, mas não entre sí. Ele tem uma aliança de prata, fina e quase imperceptivel no dedo. Ela, tem uma aliança de aço inox um pouco mais larga.
Com certeza não são um casal de namorados.
Continuo fixamente me olhando no espelho. Meu cabelo desarrumado, minha barba por fazer. Uma dor forte e aguda em meu peito segue desde que eu me lembro. Mas eu não me lembro de muita coisa.
Será que botaram algo na minha bebida?
Meu reflexo sorri para mim, mas...
... eu não estou sorrindo para ele.
Primeiramente, me lembro de estar em casa. Acabava de desligar o telefone, talvez a pior ligação da minha vida. Ela me disse para esquecer que ela existe. Sentei próximo a janela, acendi um cigarro. Exatamente quatro tragadas depois, a campainha toca. Caminho até a porta, abro. São dois amigos, me dizem pra trocar de roupa, "você não pode ficar em casa hoje', é o que eles dizem. Troco de camiseta, coloco uma calça, o tênis, um boné qualquer. Passo a mão para arrumar a barba e o cabelo. Saímos.
Não me lembro de nada depois de passar da porta de casa. Em seguida, minha primeira lembrança é de estar numa casa, cheia de gente, todos bebendo e conversando. Música alta.
Não conheço ninguém, nem meus amigos estão ali. Olho por todos os lados. Na multidão, alguém me olha, do canto, solitário. Vem em minha direção, sorri, passa por mim e vai em direção a cozinha.
Acalme-se,
respire, olho para o espelho, ele continua sorrir enquanto me mantenho quieto.
Onde eu estava? Ah, sim, a cozinha.
Vou até lá, um copo de alguma bebida, deve ser vodka. Olho por todos os lados, não vejo ninguém. A dor no peito aumenta, estou sozinho. Algumas pessoas me olham, sou o estranho da festa. Me isolo aos poucos no canto da cozinha. Todos me olham. Não quero mais ficar aqui. Caminho pela casa procurando meus amigos, não vejo rostos conhecidos. O nervoso cresce.
Acalme-se.
As pessoas me encaram, todas elas. Todas com os mesmos rostos, todas iguais.
Bato os dedos no copo, como um pizicato. Todos estão cinzas. Ninguém se destaca e eu me mantenho cada vez mais apático. Alguém passa novamente, me olhando e chamando minha atenção. Segue até a sala de jantar, passa pela escada, sobe. Caminho atrás, espero que seja quem eu conheça. No fim da escada, um corredor, duas portas. Desespero. Tudo está fechado, e isso tudo me incomoda.
A dor no peito continua cada vez mais forte.
"eu não deveria ter saído de casa hoje" - penso.
Escolho uma das portas, entro. É o banheiro.
Dentro do banheiro, há um casal, se beijando freneticamente. Eles não me viram, ou não se importam com a minha presença. Eu preciso sair daqui. Me viro para o espelho. Eles me olham, me ignoram. Todos tem me ignorado. Meu desespero aumenta. Olho para o meu reflexo no espelho, ele sorri, tirando sarro do meu desespero.
Meu reflexo movimenta a boca, é simples entender o que ele diz, mesmo sem o som.
"Você tá fodido!"
"Eu não deveria ter saído de casa hoje"- penso.
O comodo começa a se fechar a minha volta, o casal para de se beijar e me encara, se aproximam de mim e me fitam como se quisessem dizer algo. Eu apenas olho pro espelho. Eu preciso correr dali, preciso sair de alguma forma. minhas pernas não se mexem, estou travado, fixamente em frente ao espelho, olhando fixamente para o meu reflexo que continua dizendo
"Você tá fodido!"
Estou travado, não consigo me movimentar, tento correr, tento mexer um só musculo, mas nada acontece. o casal se aproxima, meu reflexo sorri, eu não consigo me movimentar, nem mesmo para pedir socorro.
a porta abre, alguém entra, põe a mão em meu ombro, me puxa pelo pescoço e me da um abraço.
"hey, eu to aqui, fica bem" - ela sussurra no meu ouvido - " Eu to te procurando faz muito tempo, como você veio parar aqui?"
um abraço, forte, calmo e reconfortante.
"como eu vim parar aqui?"
00:00
Imagem por Michael Gaida
Estou de frente ao espelho, olhando fixamente para minha imagem refletida. Como eu vim para nesta festa? Ao meu lado, dentro do banheiro, há um casal, se beijando freneticamente. Eles não me viram, ou não se importam com a minha presença. Ambos namoram, mas não entre sí. Ele tem uma aliança de prata, fina e quase imperceptivel no dedo. Ela, tem uma aliança de aço inox um pouco mais larga.
Com certeza não são um casal de namorados.
Continuo fixamente me olhando no espelho. Meu cabelo desarrumado, minha barba por fazer. Uma dor forte e aguda em meu peito segue desde que eu me lembro. Mas eu não me lembro de muita coisa.
Será que botaram algo na minha bebida?
Meu reflexo sorri para mim, mas...
... eu não estou sorrindo para ele.
Primeiramente, me lembro de estar em casa. Acabava de desligar o telefone, talvez a pior ligação da minha vida. Ela me disse para esquecer que ela existe. Sentei próximo a janela, acendi um cigarro. Exatamente quatro tragadas depois, a campainha toca. Caminho até a porta, abro. São dois amigos, me dizem pra trocar de roupa, "você não pode ficar em casa hoje', é o que eles dizem. Troco de camiseta, coloco uma calça, o tênis, um boné qualquer. Passo a mão para arrumar a barba e o cabelo. Saímos.
Não me lembro de nada depois de passar da porta de casa. Em seguida, minha primeira lembrança é de estar numa casa, cheia de gente, todos bebendo e conversando. Música alta.
Não conheço ninguém, nem meus amigos estão ali. Olho por todos os lados. Na multidão, alguém me olha, do canto, solitário. Vem em minha direção, sorri, passa por mim e vai em direção a cozinha.
Acalme-se,
respire, olho para o espelho, ele continua sorrir enquanto me mantenho quieto.
Onde eu estava? Ah, sim, a cozinha.
Vou até lá, um copo de alguma bebida, deve ser vodka. Olho por todos os lados, não vejo ninguém. A dor no peito aumenta, estou sozinho. Algumas pessoas me olham, sou o estranho da festa. Me isolo aos poucos no canto da cozinha. Todos me olham. Não quero mais ficar aqui. Caminho pela casa procurando meus amigos, não vejo rostos conhecidos. O nervoso cresce.
Acalme-se.
As pessoas me encaram, todas elas. Todas com os mesmos rostos, todas iguais.
Bato os dedos no copo, como um pizicato. Todos estão cinzas. Ninguém se destaca e eu me mantenho cada vez mais apático. Alguém passa novamente, me olhando e chamando minha atenção. Segue até a sala de jantar, passa pela escada, sobe. Caminho atrás, espero que seja quem eu conheça. No fim da escada, um corredor, duas portas. Desespero. Tudo está fechado, e isso tudo me incomoda.
A dor no peito continua cada vez mais forte.
"eu não deveria ter saído de casa hoje" - penso.
Escolho uma das portas, entro. É o banheiro.
Dentro do banheiro, há um casal, se beijando freneticamente. Eles não me viram, ou não se importam com a minha presença. Eu preciso sair daqui. Me viro para o espelho. Eles me olham, me ignoram. Todos tem me ignorado. Meu desespero aumenta. Olho para o meu reflexo no espelho, ele sorri, tirando sarro do meu desespero.
Meu reflexo movimenta a boca, é simples entender o que ele diz, mesmo sem o som.
"Você tá fodido!"
"Eu não deveria ter saído de casa hoje"- penso.
O comodo começa a se fechar a minha volta, o casal para de se beijar e me encara, se aproximam de mim e me fitam como se quisessem dizer algo. Eu apenas olho pro espelho. Eu preciso correr dali, preciso sair de alguma forma. minhas pernas não se mexem, estou travado, fixamente em frente ao espelho, olhando fixamente para o meu reflexo que continua dizendo
"Você tá fodido!"
Estou travado, não consigo me movimentar, tento correr, tento mexer um só musculo, mas nada acontece. o casal se aproxima, meu reflexo sorri, eu não consigo me movimentar, nem mesmo para pedir socorro.
a porta abre, alguém entra, põe a mão em meu ombro, me puxa pelo pescoço e me da um abraço.
"hey, eu to aqui, fica bem" - ela sussurra no meu ouvido - " Eu to te procurando faz muito tempo, como você veio parar aqui?"
um abraço, forte, calmo e reconfortante.
"como eu vim parar aqui?"
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Imagem por Michael Gaida
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