dias cinzas.

Tenho pensado a quase duas semanas em como faria para começar esse texto sem demonstrar que eu havia desistido da vida ou qualquer coisa parecida a isso. Então, depois de muito pensar eu finalmente começo com um:

Hoje eu desisti de tudo, de novo.
Hoje, foi um daqueles dias em quevocê não quer acordar, talvez por que fez alguma merda ou alguma coisa do tipo. Ou por que você já desistiu de si mesmo.
Já tem algumas semanas que eu resolvi que não iria mais me importar tanto com certas coisas, pessoas, futuro (principalmente com o meu) e tudo isso que deixa a gente bem triste no nosso dia-a-dia. Me lembro de acordar aquela manhã, olhar bem pro lado de fora da janela, ver aquele dia ensolarado brilhante e pensar:

- Foda-se. É Segunda-Feira, ela foi embora e não vai mais voltar.

Me levantei sonolento, caminhei até o banheiro, ainda tropeçando nas cadeiras e numas garrafas que estavam no chão. Olhei para a cozinha e tinha certeza de ter visto ela ali, usando minha camisa vermelha e sorrindo. Foi muito rápido e antes de entrar no banheiro olhei de volta, foi apenas uma impressão. Coisa do meu cérebro me enganando, com certeza. Entrei no banheiro e lavei o rosto. Olhava pro espelho e não me reconhecia mais. Não era eu ali, era qualquer outra pessoa, mas não eu. Caminhei até a sala, e passando pela cozinha, peguei um cigarro no maço. Acendi. Numa primeira tragada a fumaça densa saiu e eu pensei novamente:

- Foda-se. É Segunda-Feira, eu não tenho mais trabalho, não tenho mais ela. Tenho meia duzia de livros, alguns boletos vencidos e um maço de cigarros. Até a bebida acabou.

Eu estava sozinho e ficaria sozinho por muito tempo. Apenas não sabia disso.

 Eu tinha feito algo muito errado. Muito errado mesmo. Pelo menos algo de muito errado pra mim.

Sempre fui adepto do "faça o que você quiser da sua vida, ela é sua e você decide o que é melhor pra você!". Sempre prezei pela escolha de cada um fazer aquilo que quiser com sua vida. Até algumas semanas atrás.

Recebi uma ligação de um amigo, o qual não conversava a muito tempo, senti um tom pesado em sua voz, e o mesmo me disse, depois de algumas horas de conversa:

- Cara, só liguei pra me despedir, não dá mais mesmo!

- Você tem certeza disso? - perguntei.

- Eu tenho, cara. Já tentei tudo e nada da certo.

Por cinco minutos eu lembrei de tudo o que eu e esse amigo passamos juntos. Desde passeios furados, até brigas, distanciamentos e reconciliações. Sem nunca um deixar o outro cair. Naquele momento, algo me pegou de certa forma, eu senti medo de perder aquele que me apoiou da forma mais sincera por todos esses anos. Minha unica reação foi ligar para outro amigo, que morava mais próximo. Entre eu e eles, havia uma pequena diferença de 300km. Então, sabendo que eu não iria conseguir chegar a tempo, fiz o que achei mais sensato no meio de todo o meu medo.

Nada adiantou, e este amigo partiu naquela mesma noite. Não vou expor a forma como ele se foi, mas aquilo mexeu muito comigo. Inicialmente, por não conseguir ajudar, e logo em seguida, por ter tentado manipular o que ele quis fazer da sua própria vida. Aquilo mexeu comigo de uma forma muito pesada. Tive uma crise de pânico que durou pouco mais de uma semana, eu quase não saí do quarto e quando saí, foi horrivél e eu quis voltar pra ele. Me isolei de todos, principalmente dela, qua não tinha nada a ver com o assunto.

Lembro-me de sentir que tudo passava e, ao procurá-la, encontrar ela deitada na minha poltrona, com uma coberta, palida e com uma aparencia cansada. Talvez eu tenha dado muito trabalho nesses dias. Talvez eu tenha dado muito trabalho para as pessoas a vida toda. Eu já começava a tentar manipular aquilo que faziam com as suas próprias vidas.

Peguei-a no colo, levei-a até a cama. Ela dormia pesado, talvez o cansaço estivesse sendo retirado dalí. Resolvi que não iria mais atrapalhar sua vida. Fui até a cozinha e tomei uma garrafa de whiskey barato, em menos de uma hora. Eu precisava tomar coragem para dizer as palavras que estavam guardadas lá dentro.

Ela se levantou, perguntou se estava tudo bem, pedi pra que ela se sentasse ali. Precisavamos conversar.

- Aconteceu algo?

- Sim, eu não sou mais eu. Eu tento controlar os outros agora!

- Como assim?

- Você precisa ir, antes que eu comece a querer controlar você também.

- Do que você está falando? Me explica, por favor!

- Eu te amo, de verdade, por isso você precisa ir. Eu não aguento mais minha vida.

- Eu não vou. Você sabe disso.

- Então eu vou. Para o seu bem.

- Ei, calma, fala comigo.

Peguei uma blusa, minha carteira de cigarros e saí de casa. É a única coisa que me lembro antes de acordar na minha cama hoje cedo. Não me lembro de ter voltado, não me lembro de como cheguei em casa, apenas os flashes da nossa última conversa. Eu sei que ela deve estar num lugar melhor. Talvez deve até estar sorrindo novamente. Deve estar Feliz.

Perdi tudo o que eu tinha aquela noite, um amigo, um amor e até qualquer perspectiva da minha vida. Isso talvez passe algum dia, talvez não..

Aquela fumaça densa do cigarro me lembrou do cabelo dela, e isso tudo veio a tona agora.

Hoje eu desisti de tudo, de novo.



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