um ultimo adeus

Hoje fazem 3 dias que não tenho noticias dele. Tenho tentado não pensar em como tudo acabou e em como tudo aconteceu de forma tão errada, mas não por culpa ou por algum desejo de que algo mais aconteça, eu só queria mesmo é que nada tivesse acontecido e que tudo isso fosse uma mentira inventada pela minha cabeça em algum sonho. A culpa não é minha se ele se achava o Shakespeare e fazia drama o tempo todo. Brincadeiras a parte, fiquei o primeiro dia esperando uma mensagem, o segundo esperando uma ligação e hoje, espero que ele esteja bem, apenas.

As vezes nós precisamos nos amar mais, e deixar que o outro ame também. Aquilo que lhe for mais conveniente. Seja uma pessoa, um animal ou a si mesmo. Ou então, deixemos que não ame nada. Há aqueles que não amam nada, ou melhor dizendo, há aqueles que querem amar tudo.

Ainda me lembro de como pensei nas oitenta e seis formas de começar este texto e tentar não dizer sentimentos que eu não tenho mais, então, resolvi que queria lembrar apenas da nossa última conversa.

Eu voltava do trabalho, chovia um pouco, uma chuva fina e que deixava pequenas gotas no meu cabelo. Precisava andar tres quarteirões até o ponto de ônibus. Caminhando pela rua escura, com medo de que a chuva apertasse, apertei o passo, pois queria chegar logo até o a corbertura do ponto de ônibus. Próximo ao ponto, vejo algumas pessoas vindo em minha direção e uma delas sorri. A chuva não deixa que eu veja exatamente seu rosto, mas consigo perceber que ele me olha e assim, vem em minha direção. Parei um pouco e esperei com que chegasse perto.

- Não esperava te encontrar aqui, você está bem? - ele disse.

- Oi, sim e você?

- Estou bem, trabalha aqui perto?

- Sim, alguns quarteirões ali pra trás.

- Você está linda, sabia?

- Obrigada pelo elogio, faz tempo que não nos vemos.

- Eu estava com saudade.

- Não estava, eu sei.

- Estava sim. Sinto sua falta, sabia?

- Mesmo?

- Claro - disse ele sorrindo e me olhando.

Sorri, como quem aparenta acreditar.

- O problema - disse ele enquanto pegava na minha mão - é que você esquece que eu existo.

- Na verdade - eu disse, puxando a mão - o problema é que você não gosta de mim, e nem sente minha falta e muito menos lembra de mim. Você tem uma vida bastante turbulenta e cheia de pessoas, uma que se importe ou não, nunca fez a diferença. Aposto que hoje você vai dizer que tem pensado em mim todos esses dias, mas eu sei que não. Que na verdade você se quer se lembra de mim, e o pior. Você mentiu. Você dizia me amar, mas eu sei - disse enquanto começava a andar em direção ao ponto de ônibus - eu sei que você nunca me amou. Você dizia coisas bonitas, e dizia que queria estar comigo sempre pra me deixar bem, por que você não queria me ver mal. E na verdade, por algum motivo, você foi com a minha cara e não queria que eu me magoasse de alguma forma. Mas está tudo bem. Você nunca sentiu nada por mim, além de uma atração, ou então, talvez um sentimento de amizade.

- Nossa, tudo bem - ele dizia assustado.

- Aliás, nunca tivemos uma vida passada, e muito menos nos conhecemos. Você sabe coisas de mim, mas não sabe mais meus sentimentos. Você nunca gostou de mim. Isso é fato. E... lembra que uma vez você me falou de uma outra moça, Gabriela, se eu não me engano?

- Sim, aquela que se cansou?

- Exatamente. Gabriela, eu juro que agora entendo ela.

- Ah é?

- Sim, eu cansei também.

Entrei no ônibus, não olhei pra trás. Decidi que a partir daquele dia, eu iria deixar muitas coisas para trás.

Desde então o telefone não toca mais, nem as mensagens chegam. Eu não tenho muitas amigas ou amigos. Tenho sentado em meu quarto, escolhido um livro na estante e decidido se isso tudo é solidão ou liberdade. E que seja qualquer um deles. Nunca estive acompanhada de verdade.

"Há duas coisas maravilhosas na solidão, estar consigo mesmo e não estar com os outros" - Arthur Schopenhauer


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

seguir.

sobre se sentir sozinho

Sobre partidas.